terça-feira, 19 de outubro de 2010

Plano de saúde ignora usuário


Autor(es): Gustavo Henrique Braga
Correio Braziliense - 19/10/2010



Plano de saúde ignora usuário

Consumidor
Diante dos baixos valores recebidos, médicos recusam as operadoras, como a Geap. Os clientes que pagam pelo serviço saem no prejuízo

Conseguir um atendimento de qualidade está cada dia mais difícil para os usuários de planos de saúde. Agora, a reclamação é contra o descredenciamento em massa dos médicos, que se recusam a atender pelas operadoras diante da baixa remuneração e de atrasos constantes nos pagamentos.

Em Brasília, beneficiários da Fundação de Seguridade Social (Geap) afirmam que a situação é crítica: são tantos os profissionais de saúde que se desligaram do plano que conseguir marcar uma simples consulta em determinadas especialidades transformou-se em uma façanha.

No Rio de Janeiro, a situação é semelhante, conforme relato de Ada Pires, 24 anos. Ela precisou fazer uma cirurgia no ombro. Além de o seu ortopedista ter pedido o descredenciamento da operadora, devido aos constantes atrasos no ressarcimento das consultas, simplesmente não havia fornecedores conveniados à Geap para os materiais adequados ao procedimento.

Embora a administradora, que atende mais de 700 mil contratos, negue a existência de qualquer problema na prestação do serviço, representantes da categoria confirmam os transtornos.

Em uma tentativa de combater o problema, o governo chegou a autorizar o reembolso de
servidores que optarem por usar planos privados de livre escolha, em detrimento da Geap ou do respectivo plano conveniado aos órgãos públicos. As queixas, no entanto, são nacionais e generalizadas entre as diversas operadoras que atuam no mercado. Tanto que a categoria médica, cujo dia foi comemorado ontem, planeja uma manifestação, em Brasília, marcada para 26 de outubro. Entre as reivindicações estão pagamentos justos e o fim de ingerências do plano no atendimento ao cliente, classificadas como antiéticas.

Negociações
A mobilização envolve ainda especialidades distribuídas em diversos estados. Os anestesistas de São Paulo, por exemplo, prometem paralisar os atendimentos por plano de saúde na quinta-feira, em ato de advertência por melhorias na remuneração. Se as negociações não avançarem, os anestesistas podem parar por tempo indeterminado. Além deles, ginecologistas e pediatras também estão mobilizados em virtude da insatisfação. No ano passado, os especialistas no atendimento a crianças chegaram a suspender os atendimentos em Brasília, atitude que pode vir a se repetir em outros estados.

O vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Aloísio Tibiriçá Miranda, afirma que, em média, os médicos recebem R$ 35 por consulta feita pelos planos de saúde e defende que essa quantia precisa aumentar para, no mínimo, o dobro. “Queremos que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) cumpra o seu papel como intermediadora do debate”, avisou. Ele afirma ainda que os problemas relatados em relação à Geap são comuns. “A rede é uma das mais insuficientes entre todas as operadoras. Além disso, é fato que a baixa remuneração tem levado muitos médicos a se descredenciarem.” Em sua defesa, a regional da operadora no Distrito Federal alegou não ter recebido nenhum tipo de reclamação de beneficiários em relação a descredenciamentos por falta de pagamento.

Quase todas
“O que ocorre, eventualmente, são descredenciamentos específicos quando não há acordo entre a Geap e determinados profissionais que solicitam reajustes muito elevados, acima do mercado. Porém, não vislumbrou-se nenhum movimento por parte dos médicos até então, uma vez que a fundação não apresenta problemas de pagamentos à rede credenciada”, informou a empresa, em nota. Mas o presidente do Sindicato dos Médicos de Brasília, Gutemberg Fialho, observa que não tem sido fácil para os usuários conseguirem atendimento.

Fialho afirma que os problemas não envolvem apenas a Geap e são, na verdade, generalizados entre quase todas as operadoras. “Além de pagarem pouco, pagam atrasados. Pelo plano, o médico recebe menos de R$ 40 por consulta. Já no atendimento particular, o valor sobe para R$ 100 a R$ 200”, criticou. Um dos problemas colaterais, também recorrente, é a prática de passar à frente da fila de espera os pacientes que buscam atendimento particular. Para coibir isso, a ANS já anunciou, para as próximas semanas, que estabelecerá prazos máximos para a marcação de consultas para todos os clientes.


Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra