Vilson Antonio Romero
DIAP - 05/04/2012
Tá dura a vida do funcionalismo público federal! Além
amargar mais de três anos sem recuperação de seu poder aquisitivo, com o custo
de vida subindo em percentuais acima dos índices divulgados e manipulados
oficialmente, os servidores não vislumbram nenhuma expectativa diante do
cenário imposto pelo Palácio do Planalto.
Primeiro, o governo está dando as cartas e jogando de mão,
numa dominação quase totalitária dos operadores institucionais e dos Três
Poderes. O Executivo está plenamente loteado entre os partidos da coligação,
com repercussão imediata no Legislativo, onde a base, apesar do freqüente
"fogo amigo" anda perto dos sólidos 70%, como mostrou recente votação
de projetos de interesse do governo.
Por outro lado, o governo petista também é responsável pela
indicação da maioria maciça dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Pode não representar nada, mas quando a matéria tiver um viés político, penderá
para que lado? Respondam os leitores.
A mão de ferro palaciana, sob o argumento da necessidade de
blindar o Brasil contra a crise internacional tem funcionado. Enquanto em
outros países, como os europeus, têm sido baixadas medidas de redução de
aposentadorias e cortes de salários de servidores, aqui nem precisou de
"pacotes" neste sentido. O arrocho está aí. E todos os servidores
estão sentindo na pele, na mesa e no bolso.
A demonstração mais flagrante de que o governo faz o que
quer quando quer foi a votação da criação do fundo de pensão para as
aposentadorias dos servidores que ganham acima do teto do INSS.
A matéria integra o projeto neoliberal acordado por Fernando
Henrique Cardoso com o Fundo Monetário Internacional nos anos 90. E o governo
dito progressista, defensor dos trabalhadores, jogou todas as fichas em sua
aprovação, entregando a aposentadoria de seus empregados a mercê da rapinagem
do mercado financeiro.
Na história recente do Parlamento brasileiro, nunca tínhamos
visto uma sessão plenária ocorrida numa terça feira na Câmara dos Deputados com
quórum tão expressivo e com os parlamentares fazendo questão de votar
nominalmente uma matéria antipática à parcela expressiva de seus eleitores.
Isto ocorreu em 28 de fevereiro de 2012, com a presença de
454 parlamentares, sendo contra somente 134. É quórum para aprovar com folga
qualquer Proposta de Emenda Constitucional. Por quê? Porque estavam em jogo não
as aposentadorias dos servidores, mas bilhões de reais em emendas parlamentares
contingenciadas pelo Planalto e um sem-número de cargos de segundo e terceiro
escalões a serem nomeados. A conta tinha que ser paga com votação da base
aliada.
No Senado, a patrola governista também funcionou. Exatamente
um mês depois, no dia 28 de março, pela manhã o projeto que havia chegado da
Câmara foi aprovado a "toque de caixa" em duas Comissões Permanentes
e à tarde em votação simbólica no plenário.
Apesar de dias antes os senadores terem feito "mise en
scene" numa audiência pública onde mais de uma dezena de representações
sindicais e associativas de servidores torpedearam o projeto, pela sua perniciosidade
para a categoria.
Com isto, passou o projeto e foi sepultada a esperança de
que as aposentadorias dos funcionários públicos se livrariam de ficar ao leo,
ao bel-prazer dos humores das bolsas e aplicações. Lamentável e desesperançoso
o quadro! A patrola governista é inclemente!
Vilson Antonio Romero é Jornalista, auditor fiscal da RFB,
diretor de Direitos Sociais e Imprensa Livre da Associação Riograndense de
Imprensa, da Fundação Anfip de Estudos da Seguridade Social e presidente do
Sindifisco Nacional em Porto Alegre. E-mail: vilsonromero@yahoo.com.br