Mariana Timóteo da Costa
O Globo - 11/07/2012
CUT diz que presidente está irredutível sobre reajustes e
ressalta que "na época de Lula não era assim"
SÃO PAULO - Sai o mensalão, entra a greve. Depois de
declarações que geraram polêmica sobre uma possível mobilização social caso o
julgamento do mensalão seja "político" e não "técnico",
dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) - reunidos no 11º Congresso
do órgão - debateram a iminente paralisação geral dos servidores públicos
federais e não pouparam críticas ao governo Dilma, com frases do tipo "na
época do Lula não era assim". Desde março, os sindicalistas tentam negociar
ajustes salariais, mas, segundo eles, o governo vem se mostrando irredutível e
"tentando mais um ataque (em referência ao fator previdenciário)".
Pelo menos a metade dos funcionários de 20 órgãos e
ministérios em atividade no país já está paralisada, de acordo com a CUT. O
setores da saúde e da educação são os mais afetados. A greve, por exemplo,
atinge 56 das 59 universidades federais.
- Que mensalão? Não temos tempo para o mensalão. Queremos
que o governo mude o comportamento que vem tendo conosco. Greve nunca é a
melhor alternativa, mas vem se mostrando a única. Estamos tendo paciência, mas
é claro que ela (a greve) pode ser ampliada - disse Pedro Armengol,
diretor-executivo da central.
Armengol voltou ontem de Brasília para São Paulo, onde se
encontrou com o secretário de Relações do Trabalho do Planejamento, Sérgio
Mendonça, que negocia com o funcionalismo. Os servidores preparam, para a
semana que vem, um acampamento em frente à Esplanada dos Ministérios. No dia
18, uma marcha contrária ao governo deve ocorrer em Brasília. Embora não deseje
desagradar ao setor que historicamente apoia o PT, Dilma já teria deixado
escapar que está mais preocupada em controlar os gastos públicos para enfrentar
a estagnação da economia e a crise internacional. O prazo para envio ao
Congresso da previsão de gastos para 2013 é 31 de agosto. Até lá, a CUT vai
pressionar. O governo gasta atualmente cerca de 4% do PIB com os servidores.
- Na época do Lula se gastava mais: pelo menos 4,8%. Hoje,
países com serviço público razoável gastam 5%. O problema é que ninguém sabe
qual será a diretriz orçamentária do governo, mas já sabemos que a intenção é
baixar ainda mais os 4% que já gasta. É para que isso não ocorra que lutaremos
- disse Armengol.
Ele acha aceitável a preocupação do governo com a crise, mas
sem sacrificar o trabalhador.
- Agora, não venham colocar, de forma perversa, que a
despesa de pessoal é um risco para o não crescimento econômico. Pelo contrário,
salários justos fortalecem a economia - defende Armengol.