Correio Braziliense - 17/09/2012
O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas,
avalia que o ambiente na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva era mais amistoso
no que se refere às relações entre governo e servidores, com negociações todo
dia. "Agora, já não há mais o mesmo ambiente e isso está claro".
Segundo ele, o então presidente Lula teve condição econômicas mais favoráveis
para recompor os salários do funcionalismo. "Já houve a recuperação das
remunerações, e as condições atuais são mais difíceis. Logo, é natural que o
governo seja mais duro nas negociações. A facilidade de negociar diminuiu, ao
mesmo tempo em que a conjuntura piorou muito", observa.
Ele comenta que, de fato, a interlocução com os
sindicalistas no governo anterior era mais direta, a ponto de o presidente da
Central Única dos Trabalhadores (CUT)ter participado de um churrasco promovido
por Lula na Granja do Torto.
Dilma evitou contato com os representantes das centrais
sindicais não só no horário de lazer, mas também durante o expediente. Em vez
de recebê-los no Planalto, designou como seu interlocutor o secretário-geral da
Presidência, Gilberto Carvalho. Velloso lembra que o Brasil vive uma era de
inflação na casa dos 5% e juros de 7,5% ao ano. "Não há espaço mais para
reajustes de acima desses patamares. Os servidores têm que se convencer
disso", argumenta.
Planejamento
O Ministério do Planejamento rebate as acusações dos
dirigentes sindicais. Afirma que fez exaustivas rodas de negociação com todos,
inclusive nos finais de semana, e que, se a intenção fosse agir com
truculência, não teria passado "horas e horas" discutindo as
propostas. O ministério diz entender o "direito legítimo" das
entidades de reclamarem, porque elas têm que dar satisfação às suas bases.
O Planejamento admite que não consegue impedir a realização
de greves, mas ressalva que o acordo é claro e que não há menor possibilidade
de promover qualquer reajuste que cause impacto na folha de pessoal até 2015.
Afirma, no entanto, que a mesa de negociação continua aberta para outras
demandas e, mas somente a partir de 2016.