Antonio Temóteo
Correio Braziliense
- 01/11/2012
Em vez dos 15,8% de aumento no salário-base até 2015,
servidores da Justiça tentam no Congresso dobrar as gratificações. Governo diz
que não há dinheiro, a menos que os tribunais cortem custos operacionais
Os servidores do Judiciário conseguiram a primeira vitória
para garantir reajuste salarial maior do que o previsto no acordo fechado no
fim de agosto entre o Palácio do Planalto e o presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), Ayres Britto.
Ontem, em sessão lotada naComissão de Trabalho, de
Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara dos Deputados, representantes
sindicais conseguiram dos parlamentares a aprovação do Projeto de Lei 4.363/12,
que garante o aumento das gratificações da categoria de 50% para 100% do
salário-base.
A proposta foi aprovada por unanimidade e, agora, seguirá
para a Comissão de Finanças e Tributação. Pelo projeto, a Gratificação
Judiciária (GAJ) subirá ao longo de três anos, entre 2013 e 2015, conforme o
acerto fechado pelo governo com a maioria dos servidores federais. Na primeira
etapa, o benefício aumentará para 72,5% do salário-base. No exercício seguinte,
para 86,5%, e, no último ano, para 100%. O projeto de lei, de autoria do STF,
não especifica a totalidade das receitas para cobrir os reajustes.
Nas contas do governo, se aprovada da forma como foi
relatada pelo deputado federal Policarpo (PT-DF), a proposta resultará em um
gasto maior do que o previsto pelo Ministério do Planejamento no Orçamento de
2013, em tramitação no Congresso. Nas contas apresentadas pela ministra Miriam
Belchior, estão reservados para os aumentos do Judiciário R$ 964 milhões
somente para o próximo ano. O cálculo do governo leva em consideração a
correção direta dos salários, de 15,8% em três anos. “Nossa posição sobre o
reajuste do Judiciário está clara”, disse a ministra um dia antes da votação na
Comissão de Trabalho. Ou seja, o governo já reservou recursos para os
servidores do Judiciário e não admite ampliar o gasto com eles.
Para o Planejamento, na melhor das hipóteses, o Planalto
aceita que o Judiciário retire de seu orçamento próprio a diferença para
garantir o aumento da gratificação de 50% para 100%. “Não vemos nenhum problema
no remanejamento de verbas. O governo e o Judiciário vão negociar. O que não
pode é nos apresentarem uma fatura maior”, disse um técnico da equipe
econômica, lembrando que a reserva feita pelo governo garante a elevação da GAJ
para, no máximo, 89% do salário-base até 2015.
Remanejamento
O STF assegura que já está fazendo estudos para encontrar
verbas suficientes para dobrar as gratificações e evitar o desgaste de um
embate público com a presidente Dilma Rousseff, que tem sido categórica ao
afirmar que não há mais espaço no caixa do governo para reajustes. Enquanto as
discussões avançam pelos bastidores, Policarpo trabalha para aprovar o projeto
de lei até o fim do ano.
O deputado está disposto a acelerar a tramitação do projeto
de lei. Para isso, promete protocolar um requerimento à Mesa Diretora da Câmara
com pedido de urgência. Se aprovada, a proposta pulará etapas e irá direto para
o plenário da Casa. De lá, para o Senado. “Dessa forma, o projeto não
precisaria passar pela Comissão de Finanças nem pela Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ). Por enquanto, a tramitação segue normalmente”, explicou o
parlamentar.
Mais defensores
Além de apreciar o texto que trata do aumento no percentual
de gratificação dos servidores do Judiciário, a Comissão de Trabalho, de
Administração e Serviço Público (CTASP) deu ontem parecer favorável ao projeto
de lei, de autoria do Executivo, que cria 789 cargos de defensor público
federal. O relator da matéria, deputado Amauri Teixeira (PT-BA), considera o
quadro de 481 advogados da Defensoria Pública da União insuficiente para
atender a demanda da população que carece de atendimento gratuito para acionar
a Justiça.
O PL segue agora para a CFT e em seguida deve ser analisado
pela CCJ em caráter conclusivo. Teixeira se comprometeu a articular com as
lideranças da casa a aprovação do texto até o fim do ano. “Em muitos estados
existem dois ou três defensores para atender a milhares de pessoas. Está
prevista no orçamento do ano que vem a contratação de 40 servidores. Mas tenho
uma reunião nesta semana com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para
subirmos para 150”, finalizou.
De acordo com a Defensoria Pública Federal, o último
concurso foi realizado em 2010 e 155 pessoas estão no cadastro de reserva para
o cargo. Em maio, a validade do certame foi prorrogada por mais dois anos.