sábado, 17 de novembro de 2012

O feriado emendou a sexta-feira


Renata Mariz
Correio Braziliense     -     17/11/2012





Em dia de expediente, muitos funcionários públicos esticaram a folga. Nos ministérios, havia vagas de sobra e pouco movimento. Planejamento não sabe quantos faltaram


Facilidade para encontrar vagas em estacionamentos, taxistas parados por mais de três horas sem fazer uma corrida, ambulantes descontentes com o fraco movimento e, nos prédios públicos, corredores vazios. Na Esplanada dos Ministérios, que abriga parte considerável do funcionalismo federal, a sexta-feira transcorreu com movimento bem abaixo do normal. 


Embora não tenha havido determinação de ponto facultativo na esfera federal, ficou visível que muita gente emendou o feriado da Proclamação da República com o fim de semana. Na maior parte dos órgãos, a explicação dos servidores — sob a condição de anonimato — era a de que um rodízio havia sido acertado, de forma que todos os setores tivessem, ao menos, um funcionário presente para garantir a prestação do serviço.

A calmaria nos corredores do 17º andar do Senado, onde trabalham servidores de setores administrativos da Casa, se refletiu na quantidade de café servido ao longo do dia. Segundo as copeiras, são feitas de 12 a 15 garrafas por dia. Ontem, no meio da tarde, foram apenas duas, que ainda estavam cheias.

Wellington Rodrigues, 30 anos, que vende marmitas há cerca de quatro anos na Esplanada, também notou o movimento menor. Das 60 quentinhas levadas para a porta de um ministério, ele vendeu menos de 10 até as 11h. “Nesse horário, se fosse uma sexta-feira normal, metade das marmitas já tinha ido embora. Hoje, talvez tenha que voltar para casa com algumas”, lamenta.

Nos estacionamentos, sobraram vagas. Jueliton Coelho, 33, só conseguiu lavar um carro na parte da manhã. Em dias normais, consegue acertar até três lavagens antes da parada para almoço. Mas ele não critica os patrões que enforcaram a sexta-feira. “Se eu tivesse dinheiro, também emendaria (o feriado). Ia viajar”, diz o baiano de Bom Jesus da Lapa. No ponto onde Jueliton fica, entre os ministérios da Agricultura e da Integração Nacional, muitas vagas passaram o dia desocupadas. Ele atesta que a baixa movimentação é incomum. “Aqui, fica lotado o tempo inteiro. É muito carro”, diz.

Em frente ao prédio que abriga os ministérios do Meio Ambiente e da Cultura, Henrique Alves da Silva, 18, que trabalha em um quiosque de lanches, fez questão de mostrar a travessa abarrotada de pães de queijo. Ali são assados 400 todas as manhãs. “Já está quase na hora do almoço e era para ter acabado ou, pelo menos, estar no fim. Nem vamos assar mais à tarde”, diz ele. O movimento fraco de servidores não se resumiu ao Executivo. No estacionamento do Supremo Tribunal Federal (STF), a quantidade de vagas desocupadas também destoava do padrão de um dia normal de trabalho.

Sem informação

O Ministério do Planejamento informou ao Correio que não tem como estimar quantos servidores deixaram de bater o ponto ontem. De acordo com a assessoria de imprensa da pasta, é preciso que cada órgão feche sua folha de ponto, quando novembro chegar ao fim, para saber o número de faltosos. 


A Câmara dos Deputados e o Senado Federal tampouco souberam dizer o número de servidores que decidiram emendar o feriado. Os dois órgãos reforçaram, entretanto, que todas as faltas injustificadas serão descontadas. O Executivo, que responde pela maior parte do funcionalismo federal, tem 530 mil servidores civis no país, dos quais pouco mais de 60 mil estão no Distrito Federal, segundo boletim mais recente divulgado pelo Planejamento.

Congresso promete cortar ponto

Na avaliação do economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, é difícil quantificar eventuais perdas que o país sofre em função dos feriados prolongados. Ele ressalta, porém, outra dimensão do problema. “Do ponto de vista ético, é preciso verificar sob quais regras essas faltas ao serviço ocorrem. Há descontos?”, pergunta ele, ressaltando não ver muitos prejuízos econômicos decorrentes da gazeta.

Para o taxista Sebastião da Costa Oliveira, entretanto, uma Esplanada com pouco movimento, como ontem, significa menos dinheiro em casa. “Só fiz duas corridas até agora”, reclama o potiguar, de 71 anos, 50 de Brasília e 20 fazendo ponto na saída do estacionamento do Ministério da Fazenda. Ele considera errado o prolongamento de feriados em dias úteis. “Traz muita perda para todo mundo. O comércio, os restaurantes, tudo fica vazio porque as pessoas viajam”, lamenta o taxista. Ele conta que, durante toda a manhã, só conseguiu um passageiro. “Uma corrida de R$ 10, coisa à toa.” Para Oliveira, o mais correto seria passar para segunda ou sexta-feira todos os feriados que caíssem no meio da semana. “Assim, todo mundo teria seu dia de folga, mas sem esse negócio de enforcar”, sugere.



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