Antonio Temóteo
Estado de Minas
- 02/02/2014
Entre as benesses do poder, a mais comum delas é o uso
indiscriminado de aproximadamente 5 mil carros. Os veículos e os serviços de
motoristas, que deveriam ser utilizados apenas para deslocamentos de trabalho,
estão transitando livremente em shopping centers de Brasília na hora do almoço,
levando e buscando filhos de servidores na escola e, ao fim do expediente,
dando uma passadinha em academias.
Dados do Sistema Integrado Administração Federal mostram
que, em 2013, foram gastos R$ 860 milhões com despesas para manter, alugar e
renovar a frota. Desse total, R$ 365 milhões se referem a despesas com
combustível, outros R$ 2,3 milhões com o pagamento do Imposto sobre a
Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), R$ 220 milhões com a manutenção e
R$ 245,6 milhões com peças.
O Decreto Presidencial nº 6.403, de 17 de março de 2008,
dispõe sobre o uso dos veículos oficiais e detalha que eles devem ser usados
apenas em atividades relacionadas ao trabalho, com exceção dos que estão à
disposição dos presidentes da República, do Congresso Nacional e do Supremo
Tribunal Federal. Apesar das regras, a fiscalização é falha e a farra,
generalizada.
Na avaliação do professor da Universidade de Brasília (UnB)
José Matias-Pereira, a administração pública no Brasil retrocedeu ao caminhar
para um modelo patrimonialista, no qual os interesses pessoais prevalecem em
detrito aos da coletividade. Para ele, quem está no poder se sente à vontade
para estabelecer regras em benefício próprio, sem levar em consideração
princípios como a transparência e o compromisso com o gasto do dinheiro dos
contribuintes.
Conforme Matias-Pereira, as benesses nos três poderes são
direcionadas para atender as demandas de apadrinhados que não têm compromisso
com o interesse público. No entender dele, essas ações comprometem o desempenho
do funcionalismo, pois todos se protegem na tentativa de tirar proveito da
máquina. “Se a administração pública não tiver como base a competência e a
ética, o país continuará encalhado”, comentou.
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