Agência Brasil
- 04/02/2014
A greve por tempo indeterminado dos trabalhadores do setor
de saúde dos hospitais federais do Rio de Janeiro, iniciada na segunda-feira
(3), atinge mais de 90% dos servidores no estado, paralisando quatro unidades
hospitalares e dois institutos – a exceção é o Hospital Geral de Bonsucesso, o
único que continua funcionando normalmente.
A informação é da diretora do Sindicato dos Trabalhadores em
Saúde, Trabalho e Previdência Social no Estado do Rio de Janeiro
(Sindsprev/RJ), Lúcia Padua, que disse que a greve foi deflagrada a partir da
decisão do governo de adotar o ponto eletrônico nas unidades de saúde do estado
e, com isto, aumentar a carga de trabalho dos servidores.
“A greve dos trabalhadores da saúde é por tempo
indeterminado e é motivado pela intensão do governo, que quer, por meio do
ponto eletrônico, alterar a carga horária da categoria de 30 para 40 horas
semanais. A decisão representa um ataque muito grande às condições de vida da
categoria, uma vez que aumenta o nível de estresse. Representa para nós,
profissionais de saúde, diminuição do salário, pois não acompanha o aumento da
carga horária”.
Segundo a diretora do Sidsprev, não há a possibilidade de
acordo sem que o governo reveja a decisão de alterar a carga horária. “É uma
conquista da categoria que há mais de três décadas, amparada inclusive por uma
portaria ministerial, trabalha 30 horas semanais. No município também a carga é
30 horas e na rede estadual é ainda menos: 24 horas semanais. Agora na
contramão da humanização do trabalho da saúde, o governo quer aumentar a nossa
carga horária e isto é inaceitável”.
Estão em greve no Rio de Janeiro os hospitais da Lagoa, de
Ipanema, do Andaraí, o Cardoso Fontes e os institutos de Traumatoortopedia e
Nacional de Câncer. Lúcia Padua, no entanto, ressaltou que a greve na saúde é
um movimento que, pela natureza e objetivo do trabalho, não pode parar todos os
serviços.
“Embora mais de 90% da categoria tenha aderido à
paralisação, há uma parcela que continua trabalhando porque nós não somos uma
fábrica, que é só desligar o motor da máquina e ir para casa. Nós temos que
manter um atendimento mínimo à população”.
Segundo Lúcia, o que a categoria está fazendo “é reduzindo
as atividades nas salas cirúrgicas, mantendo as consultas agendadas nos
ambulatórios e que não foi possível desmarcar. Nós estamos mantendo um
atendimento mínimo - às grandes emergências. Mas os casos menos graves nós
estamos direcionando os pacientes para os postos de saúde e para as UPAs [
unidades de Pronto-Atendimento]”, disse.
A sindicalista procurou deixar claro que o movimento não é
contra o ponto eletrônico, mas em prol da dignidade do servidor da saúde
federal. “O problema é que o ponto eletrônico tem uma programação para 40
horas, o que é inaceitável”.
Em nota divulgada ontem pelo Núcleo Estadual no Rio de
Janeiro (Nerj), o Ministério da Saúde disse que “permanecerá aberto ao dialogo”
com a categoria e que “respeita o direito de greve, mas que exigirá que os
serviços essenciais à população – como atendimentos de urgência, oncológicos,
hemodiálise e diálise – sejam mantidos.
A nota informa, ainda, que o processo de implantação do
ponto eletrônico representa “um aprimoramento da gestão nas seis unidades
federais e atende à determinação do Tribunal de Contas da União, que fixou
março de 2014 como data limite para a sua implantação” e informa que o
Ministério da Saúde vem fazendo ações de controle, combate ao desperdício e
melhoria de gestão para reestruturar os hospitais federais do Rio.
“Medidas como compra descentralizada de produtos e
medicamentos, renegociação de contratos e serviços continuado e locação de
equipamentos permitiram a economia de R$ 140,8 milhões que foram aplicados na
melhoria da assistência à população”.
A nota foi criticada hoje pelo Sindsprev, principalmente
sobre a declaração do Ministério da Saúde de que está “aberto à negociações”.
“O que a nota não diz é que os servidores, por meio do Sindsprev-RJ, vêm
insistindo no diálogo e estavam dispostos a suspender a greve caso o governo
também suspendesse a imposição do ponto eletrônico, que está programado para
cobrar 40 horas semanais – quando há 30 anos a categoria cumpre a jornada de 30
horas”.
Na avaliação do Sindicato, a ida à greve foi o último
recurso dos trabalhadores. “É o grito de alerta e de socorro de quem tentou de
todas as formas evitar a paralisação por meio da negociação e que continua
aberto ao diálogo, mas não aceita abrir mão da defesa da saúde pública e de sua
dignidade profissional”, diz.
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