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- 24/10/2014
Instituição analisa casos em que candidato não ocupa cargo
público enquanto justiça avaliava situações
A Advocacia-Geral da União (AGU) defendeu, no Supremo
Tribunal Federal (STF), que a Administração Pública não pode ser obrigada a
indenizar candidato que prestou concurso e só foi nomeado por força de decisão
judicial pelo período em que não ocupou o cargo público enquanto a Justiça
analisava o caso.
Segundo a AGU, determinar que os órgãos públicos paguem aos
servidores o valor equivalente aos salários que teriam recebido durante o tempo
em que o caso ficou sob análise do Poder Judiciário configuraria enriquecimento
sem causa, uma vez que não houve, no período, prestação de serviços, ou seja, o
servidor não trabalhou para fazer jus à remuneração pleiteada.
De acordo com a Secretária-Geral de Contencioso da AGU,
Grace Maria Fernandes, não é possível falar em contrapartida remuneratória se o
servidor não estava em exercício.
"Não há dever do Poder Público de efetuar o pagamento
sem que se tenha uma prestação de serviços. Se é disso que se trata, se está
diante, na verdade, de um enriquecimento sem causa", argumentou Grace em
sustentação oral durante a sessão.
A tese foi apresentada no Recurso Extraordinário nº 724347,
proposto pela AGU contra sentença do Tribunal Regional Federal da 1ª Região
(TRF-1) que entendeu que 10 nomeados para o cargo de fiscal da Receita na
década de 1990 teriam direito a ganhar, do Poder Público, ressarcimento
equivalente à remuneração que teriam recebido no período entre a data de
conclusão do concurso e a efetiva posse determinada pela Justiça.
Como o STF reconheceu a repercussão geral do tema, a decisão
da Corte sobre o assunto vai valer para todos os casos semelhantes que estejam
sob análise do Poder Judiciário.
O caso específico que o Supremo começou a julgar nesta
quinta-feira envolve um concurso realizado em 1991 pela Receita Federal no qual
foram nomeados inicialmente 500 candidatos, conforme previsto em edital.
Outros mil aprovados foram chamados pelo órgão no ano
seguinte, de acordo com autorização do artigo 56 da Lei nº 8.541/92. Em 1994,
como a validade do certame já havia expirado, a Receita abriu seleção para
contratar mais 800 servidores, mas 10 candidatos que não haviam ficado nem
entre os 1,5 mil convocados no primeiro concurso obtiveram, na Justiça, o
direito de serem nomeados junto com os novos aprovados.
Segundo a AGU, a Administração Pública afrontaria o
princípio da legalidade se convocasse qualquer candidato do primeiro certame
depois do vencimento do prazo de validade do concurso.
"Não se tinha nenhuma autorização legal para que esses
candidatos aprovados no primeiro certame pudessem ser convocados para um
segundo concurso", observou Grace Mendonça.
Ainda assim, a Secretária-Geral de Contencioso apontou aos
ministros que, assim que a Justiça determinou a posse dos candidatos, em 1996 e
1997, as sentenças foram cumpridas. "De nomeação tardia não se trata. Para
que fosse tardia, teria que estar configurado um atraso e aqui não havia nenhuma
lei que determinasse a nomeação e também não havia nenhuma decisão judicial que
desse efetivamente a posse. Essa determinação só veio com o trânsito julgado.
Portanto, não teria o Poder Público o dever legal de nomear e dar a posse
antes", esclareceu.
Grace Mendonça também lembrou que a jurisprudência do STF
reconhece que a Administração Pública não deve indenização pelo período que o
servidor empossado por determinação judicial ficou sem receber salários
enquanto o caso era analisado pelos tribunais.
O ministro relator, Marco Aurélio de Mello, votou, no
entanto, por rejeitar o recurso da AGU e condenar o Poder Público a indenizar
os servidores, no que foi acompanhado pelo ministro Luiz Fux. Os ministros Luís
Roberto Barroso e Dias Toffoli, por outro lado, acataram o recurso da AGU antes
que um pedido de vista do ministro Teori Zavascki suspendesse o julgamento.
Fonte: Advocacia Geral da União