BSPF - 20/11/2014
O Banco do Brasil bateu recorde de desembolsos no crédito consignado
em outubro, após o governo esticar o prazo limite dos contratos para
funcionários públicos federais e aposentados. O banco federal liberou, no mês
passado, R$ 5,86 bilhões em financiamento com desconto em folha, cifra 73,24%
maior do que em igual período em 2013. O recorde anterior havia sido em junho
de 2014, com R$ 4,6 bilhões desembolsados.
O desempenho do BB se repete, em diferente escala, entre os
demais bancos da modalidade. O novo "boom" do consignado começou em
outubro, quando o governo permitiu que os servidores públicos federais tomassem
empréstimos consignados com até oito anos de duração. O prazo máximo anterior
era de cinco anos. Já os aposentados e pensionistas do INSS passaram a pagar os
empréstimos em até seis anos, ante limite anterior de cinco.
"Nas primeiras semanas de outubro, chegamos a
desembolsar até dez vezes a média diária de concessões para aquele mês. Agora,
esse ritmo caiu um pouco, mas estamos acima do patamar anterior de
concessões", afirma Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e
financiamentos do BB.
Com as novas concessões, o estoque de crédito consignado do
banco - sem contar carteiras adquiridas - chegou a R$ 57,93 bilhões no fim de
outubro, avanço de pouco mais de 2% na comparação com o mês imediatamente
anterior. Apenas para fins de comparação, entre junho e setembro deste ano, o
crescimento acumulado dessa carteira foi de 1,9%.
Não foi apenas o BB que se beneficiou com o bônus do
consignado. Em uma instituição privada, a velocidade de crescimento da carteira
de crédito INSS aumentou em quase 25% de outubro para cá. Nas contas do
executivo responsável pela operação, o potencial de avanço do saldo de
consignado INSS é de 20% após o aumento de prazo. "Quem tiver uma operação
eficiente chega bem perto desse número." Em setembro, o saldo de
consignado INSS no sistema financeiro estava em R$ 73,8 bilhões.
Outro banco com forte presença em consignado afirma ter
liberado R$ 800 milhões a mais de consignado em um só mês, após as medidas.
Isso equivale a um crescimento de cerca de 60% nos desembolsos de setembro para
outubro.
No Banco do Brasil, onde o consignado para servidores
públicos representa 87% do estoque da modalidade, foi a mudança nos prazos do
servidor federal que puxou o avanço. Chama a atenção, contudo, o fato de que
apenas 30% da carteira do banco esteja hoje com empréstimos acima de 60 meses.
"Não é todo mundo que vai tomar crédito acima desse prazo, mas acredito
que ainda temos espaço para avançar", afirma Casalatina.
O executivo lembra que, tradicionalmente, a demanda por
crédito para pessoa física cai no fim do ano, graças ao recebimento do 13º
salário. "Não vai bater recorde de novo, mas novembro deve ser um mês com
desempenho forte."
Até setembro, antes de o governo alongar os prazos dos
empréstimos, o crédito consignado vinha em desaceleração, seja no BB, seja no
mercado como um todo. Em setembro, o estoque de crédito consignado no sistema
financeiro foi de R$ 244,57 bilhões, com crescimento de 12,8% no acumulado em
12 meses. No mesmo mês de 2013, o avanço era de 18,8%. A carteira própria do BB
(sem contar as aquisições) crescia a um ritmo de 10,2% no acumulado de 12 meses
até setembro, abaixo, portanto, da média do mercado.
Embora a ampliação de prazo no consignado tenha sido saudada
pelos bancos, sobrou um ponto sensível no convênio INSS: os juros. Tabelada
pelo órgão público desde maio de 2012, a taxa limite está em 2,14%. A questão é
que, em maio de 2012, a Selic - uma das referências para o custo de captação
dos bancos - estava em 8,5%. Hoje, está em 11,25%, sem que a taxa do consignado
possa mudar. "O jeito foi apertar a comissão do 'pastinha' e compensar
perda de margem com volume", diz um executivo.
Outro banco que espera incrementar suas operações de
consignado nos próximos meses é o Santander. Não apenas pela mudança nos
prazos, mas principalmente pela aliança com o Bonsucesso, firmada em julho.
"Antes do final do ano vamos ter a aprovação do BC e já estamos começando
as operações", diz o presidente do banco no Brasil, Jesús Zabalza, apostando
que, juntos, Santander e Bonsucesso, serão "um dos jogadores fundamentais
no país no crédito consignado".
Fonte: Valor Econômico