Rodolfo Costa
Correio Braziliense
- 26/05/2015
Apesar do bloqueio de verbas do Orçamento, servidores
intensificam a pressão sobre o governo para obter aumento de salários.
Analistas da Receita Federal fazem paralisação amanhã. Entidades sindicais não
descartam greve geral
A queda de braço entre governo e Servidores Públicos
continua intensa. Sindicalistas admitem que o discurso do Ministério do Planejamento
de que não há espaço no Orçamento para atender pleitos remuneratórios será
reforçado nas mesas de negociação da campanha salarial de 2015 após anúncio do
contingenciamento de R$ 69,9 bilhões, na última sexta-feira. No entanto, vão
continuar pressionando. No que depender das representações sindicais, o governo
vai ter mais dores de cabeça e desafios a contornar, além dos embates com a
oposição no Congresso.
"Paralisações podem bloquear toda a irrigação de
recursos para estatais, estados e municípios", disse Rudinei Marques,
presidente do Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e
Controle (Unacon Sindical), que representa as carreiras da Controladoria-Geral
da União e da Secretaria do Tesouro Nacional.
Frustrados com a falta de sinalização do governo em atender
reivindicações - entre elas, reajuste linear de 27,3% -, os servidores filiados
ao Unacon Sindical prometeram cruzar os braços em 9 de junho. Uma greve geral
não está descartada e poderá acontecer em julho, antevendo a data limite - 21
de agosto - para o envio de emendas à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de
2016 ao Congresso.
Para Marques, a expectativa de recessão neste ano indica que
a contraproposta salarial a ser apresentada pelo Planejamento, entre junho e
julho, trará um percentual sem ganho real, próximo da inflação ou até menor.
"Sem valorização, vamos entrar em greve", ameaçou. Na semana passada,
funcionários da Advocacia-Geral da União entregaram cargos de chefia para
pressionar o governo.
Desafio
O cenário traçado pelo sindicalista não é muito diferente do
previsto pelo professor de Finanças Públicas da Universidade de Brasília (UnB),
Roberto Piscitelli. "Enquanto o Congresso não definir as medidas
provisórias que tratam do ajuste fiscal, o governo não saberá os recursos com
que poderá contar", avaliou. O especialista em administração pública e
professor da UnB José Matias-Pereira também acredita que o Executivo deve
manter o cabo de guerra com os servidores, podendo aliviar para categorias
específicas, como as da Receita Federal e da Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional, que contribuem para o fortalecimento da arrecadação. "O desafio
será contornar eventuais pressões de outras classes. Embora o Brasil não vá se
tornar um país desenvolvido sem educar o povo, a prioridade com a educação vai
ficar só no discurso", acredita.
A presidente do Sindicato Nacional dos Analistas Tributários
da Receita Federal (Sindireceita), Sílvia de Alencar, porém, não acredita que o
governo privilegiará determinadas carreiras. "A linha salarial na primeira
gestão da presidente Dilma Rousseff não seguiu um reajuste diferenciado",
argumentou. Para amanhã, está previsto um dia de paralisação em protesto pelo
reconhecimento das atribuições da categoria.