José Wilson Granjeiro
Congresso em Foco
- 06/10/2015
“O servidor é o Estado em ação e, por isso, precisa realizar
seu trabalho com excelência. Para tanto, é necessário democratizar as relações
de trabalho, aperfeiçoar a gestão de pessoas e priorizar estratégias de
desenvolvimento profissional”
“A mais honrosa das ocupações é servir o público e ser útil
ao maior número de pessoas.” (Michel de Montaigne)
No dia 28 de outubro, será comemorado no país o Dia do
Servidor Público. A data foi instituída em 1939, no governo de Getúlio Vargas,
pelo Decreto-Lei 1.713, para marcar a criação do Departamento de Administração
do Serviço Público, o DASP. O órgão, a partir de 1938, passou a ser responsável
pela área de pessoal do governo federal, até ser extinto, depois do golpe
militar de 1964.
A comemoração da data em 2015 coincidirá com um momento de
grandes dificuldades que passam todas as categorias de servidores públicos, em
todas as esferas de governo e em todos os poderes da República. Os servidores
públicos estão sendo afetados em algum grau, por políticas públicas equivocadas
de governantes anteriores e/ou atuais: vencimentos corroídos pela inflação e
não atualizados, perdas de direitos e vantagens, falta de uma política
estratégica e contínua de reposição de quadros, condições precárias de
trabalho, baixa estima dos servidores, cortes e mais cortes na rubrica de
contratação de pessoal e de aprimoramento desses agentes públicos.
É falácia falar em “inchaço” da máquina pública. Há mais de
223 mil cargos vagos somente no Executivo federal. Só o Ministério da Saúde,
que deveria ser prioritário nas ações de governo, tem mais de 60 mil postos
efetivos desocupados. O resultado é falta de pessoal nos hospitais públicos
para atender a população brasileira. “Inchaço” existe, sim, mas é nos cargos em
comissão, que somam mais de 95 mil e correspondem a quase 1/5 de todo o
funcionalismo efetivo do Brasil! Tal situação poderia ser resolvida se o
governo cumprisse a lei com rigor e realizasse concursos públicos para
preencher as vagas do quadro efetivo. Mas não lhe interessa fazer isso.
Se tudo isso é uma aberração escandalosa no Poder Executivo
federal, o Legislativo consegue ser, talvez, muito pior. Naquele Parlamento
cerca de 70% dos “funcionários” do Congresso Nacional não são concursados.
Trata-se de 15.583 pessoas ocupantes de cargos comissionados em gabinetes,
comissões, secretarias e áreas administrativas. Se os terceirizados entrarem na
conta, esse percentual beira os 80%. No Senado a taxa de comissionados bateu os
50% pela primeira vez. Na Câmara há mais de 12 mil funcionários sem concurso,
quase quatro vezes mais que o número de efetivos. Eles representam, segundo
alega a Casa, “o necessário para o funcionamento da Câmara e o cumprimento de sua missão”. Há
12.339 comissionados, ou 79% do total de efetivos da Casa.
Além dos quase 22 mil funcionários efetivos e comissionados
do Congresso, há ainda 3 mil terceirizados em cada uma das duas Casas, que
obviamente foram contratados sem concurso e, como comprovou o TCU, custam o
triplo, cada um, do que custaria aos cofres públicos um servidor concursado. E
só para constar: Câmara e Senado contam com mais de 28 mil servidores, alocados
na sede, em Brasília, ou distribuídos nos escritórios parlamentares dos
deputados e senadores nos estados.
Os desafios do país para os próximos anos não são poucos. As
transformações sociais exigem cada vez mais do Estado a garantia do bem-estar
de todos. Para enfrentar esses desafios, é indispensável dotar o Estado de
mecanismos que permitam a busca contínua da eficiência, eficácia e efetividade
do gasto. Tudo para que o Estado brasileiro esteja apto a promover e induzir a
entrega de bens e serviços à sociedade, além de gerar mais e melhores
oportunidades para toda a população. Nesse contexto, insere-se a atual política
de gestão do funcionalismo público, que visa à valorização dos agentes
públicos. O servidor é o Estado em ação e, por isso, precisa realizar seu
trabalho com excelência. Para tanto, é necessário democratizar as relações de
trabalho, aperfeiçoar a gestão de pessoas e priorizar estratégias de desenvolvimento
profissional voltado ao aperfeiçoamento da atuação dos servidores. Estes devem
ser valorizados, para, assim, se garantir a qualidade na prestação de serviços.
Todos os estudos e pesquisas – também este artigo
-demonstram a importância que o servidor público tem na estrutura
administrativa do país. Mas é fundamental ter consciência de que todo o
crescimento nessa área só pode ser explicado pela realização de concursos
públicos, em obediência à Constituição de 1988, que estabeleceu o concurso de
provas ou de provas e títulos como regra para o preenchimento dos cargos e
empregos públicos. O Estado deve seguir obedecendo a essa regra constitucional
e evitar a burla ao mandamento mediante a contratação de empregados
terceirizados e o aumento de cargos comissionados, práticas há muito condenadas
pelos órgãos de fiscalização, como Tribunal de Contas da União (TCU).
Os números aqui reproduzidos são animadores para aqueles que
se incluem no mundo dos concursos, sobretudo para quem estuda em busca de alcançar
a aprovação e de se tornar um servidor do Executivo, Legislativo ou Judiciário.
Nesta nossa homenagem ao Dia do Servidor Público, vale lembrar que logo esses
concurseiros poderão fazer parte desse setor da vida administrativa brasileira.
“Quando um homem assume uma função pública, deve
considerar-se propriedade do público.” (Thomas Jefferson)