Diario de Pernambuco
- 12/01/2016
O recrutamento de profissionais altamente qualificados não
significou salto qualitativo nos serviços prestados à população
A exoneração de 541 servidores por prática de atividades
ilícitas chama a atenção, mais uma vez, para a necessidade de modernizar a
burocracia. Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), 61% dos excluídos da
folha de pagamento do governo federal cometeram crime de corrupção. O restante
abandonou o trabalho ou acumulou cargo ilegalmente. Não só: 41 comissionados
foram cortados e 53 aposentadorias cassadas.
De 2003 a 2015, a soma dos excluídos chegou a 5.659 pessoas.
O Ministério do Trabalho e Previdência Social encabeça o ranking dos demitidos
(150 pessoas). Seguem-no os ministérios da Educação (130) e da Justiça (84).
Empresas estatais, como bancos, Correios e Petrobras, não figuram nas
estatísticas. Se figurassem, as cifras seriam escandalosamente superiores às
apresentadas.
Excluir funcionários incapazes de honrar os quadros da
administração pública é iniciativa importante mas não suficiente. Há que
proceder a estudos para fechar as brechas por onde escoa o dinheiro do erário.
Não por acaso as campeãs no triste campeonato dos desvios são as instituições
com gordos orçamentos e grande capilaridade. As verbas se perdem ora na porta
de saída, ora no caminho que liga as duas pontas.
A Constituição de 1988 impôs norma importante para a
moralização da burocracia governamental. O concurso público substituiu o QI
(quem indica) no preenchimento de cargos na máquina administrativa do Estado.
Em vez de cabos eleitorais, familiares, amigos ou companheiros, as portas se
abriram para a meritocracia. Os melhores, que sobressaem em provas de
conhecimento, títulos e habilidades específicas, merecem figurar nos quadros
públicos.
Paradoxalmente, o recrutamento de profissionais altamente
qualificados não significou salto qualitativo nos serviços prestados à
população. Falta treinamento – na entrada e ao longo da carreira. O domínio de
conteúdos e de habilidades demonstrado no concurso não quer dizer que a pessoa
esteja pronta para o exercício do cargo. Não está. Precisa ser introduzida aos
meandros da função e acompanhada no desempenho das tarefas.
Não só. Impõe-se acompanhar a produtividade do servidor. O
comparecimento ao trabalho longe está de comprovar o efetivo comprometimento com
as obrigações que o cargo implica. Médicos, professores, fiscais,
ascensoristas, agentes, técnicos, assessores têm de se convencer de que são
empregados do público. É o cidadão que lhes paga o salário. É ao cidadão que
devem servir.