Jornal O Tempo
- 16/06/2016
Ação é uma resposta à fala do ministro da Transparência que
afirmou que os ocupantes de cargos comissionados deveriam pedir exoneração em
caso de incompatibilidade "política, filosófica e ideológica".
Servidores da antiga CGU (Controladoria Geral da União),
agora Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, irão entrar na
manhã desta quinta-feira (16) com uma representação na Comissão de Ética da
Presidência da República contra o titular da pasta, Torquato Jardim.
A ação é uma resposta à fala do ministro que, no último dia
2, afirmou que os ocupantes de cargos comissionados deveriam pedir exoneração
em caso de incompatibilidade "política, filosófica e ideológica". A
mensagem foi transmitida por videoconferência a servidores de todas as
regionais do ministério.
O anúncio do ministro foi visto como "assédio
moral" e "ameaça de forma velada" pelo Unacon Sindical
(Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle). Na
representação, assinada pelo presidente da entidade, Rudnei Marques, a categoria
pede que "sejam tomadas as medidas cabíveis para averiguação das possíveis
violações constitucionais".
O documento, ao qual a reportagem teve acesso, argumenta que
a ação de Jardim incentivou servidores a "abdicarem de eventuais posições
políticas, ideológicas e filosóficas pessoais", representando
"possível lesão à garantia fundamental da liberdade de pensamento" e
"nítida hipótese de abuso de autoridade".
A peça ainda destaca que "os princípios da
Administração Pública não se confundem com os do governo". Jardim foi
nomeado pelo presidente interino Michel Temer, com respaldo do presidente do
Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), depois que o antigo ministro Fabiano
Silveira, pediu demissão.
Gravado em conversa na qual criticou a operação Lava Jato,
Fabiano Silveira pediu exoneração do cargo após protestos e ameaças de
demissões de funcionários públicos, que exigiam a saída dele do cargo.
Parecer
O Unacon Sindical também apresentará à Comissão de Ética um
parecer sobre o caso redigido por Márlon Reis, um dos criadores da Lei da Ficha
Limpa. Reis foi juiz por 19 anos e recentemente passou a advogar em Brasília.
No texto, Reis toca em um dos principais pontos de conflito
entre os funcionários da antiga CGU e a gestão Temer: a transformação do órgão
em ministério.
"O equívoco presente no pronunciamento do Ministro
parte de um 'pecado original'. Enquanto a Controladoria-Geral da União possuía
nítido desenho institucional de órgão de Estado, sua conversão em ministério
transmite a equivocada ideia de que se trate -como ocorre com os demais- de um
mero âmbito especializado do governo", diz o texto.
No governo de Temer, o Ministério da Transparência passou
deixou de estar atrelado à Presidência e, portanto, não tem mais ascendência
sobre os demais ministérios. Para funcionários do órgão, isso enfraquece o
poder de fiscalização.
(Folhapress)