BSPF - 17/01/2017
Alguns duvidam, outros botam a mão no fogo pela unidade. O
difícil, argumentam os críticos, é brotar harmonia entre categorias tão
distintas e de interesses divergentes. Nesta segunda-feira (16), acontecerá, às
16h30, a segunda reunião na Comissão de Legislação Participativa da Câmara (CLP),
contra a reforma da Previdência (PEC 287/2016). Na primeira, na semana passada
(11/01), a casa estava lotada com mais de 80 lideranças do funcionalismo
estadual, municipal e federal. Todos aparentemente irmanados por um movimento
orquestrado e contundente para conscientizar a sociedade da “inexistência” dos
déficits de R$ 1,243 trilhão e R$ 181,2 bilhões, nas aposentadorias de
servidores e trabalhadores privados. Um trabalho que “deve” acontecer de forma
coordenada, harmônica e profissional, idêntico ao da equipe econômica. De
grande sucesso, aliás.
Mas o serviço público, em geral, é “um saco de gatos”,
ironizam os analistas de mercado. Dentro de um mesmo órgão, dependendo da
classe, eles se engalfinham. Há sérios casos de denúncia de assédio moral, negligência,
arbitrariedades, discriminação, racismo, abusos de autoridade, além de
arraigado corporativismo, guerra por poder, benefícios e atribuições. Em alguns
órgãos, confessou uma funcionária, “o chefe não dá nem bom-dia, trata os
subalternos como lixo e vive aos berros”. Se já é praticamente impossível a
convivência dentro de um único ministério, não parece inviável agregar os Três
Poderes, nas três esferas, onde não raro a disputa por salários parte sempre da
premissa de que “mereço mais, porque sou mais importante” – ou mais capacitado
para encher os cofres do Tesouro. Como então conciliar? Não é uma resposta
fácil.
O que chama a atenção é que antes mesmo de iniciar as
tratativas do casamento, o divórcio já parece certo. No mesmo dia em que as 80
lideranças faziam seu desabafo na CLP contra a reforma do governo, “todas as
entidades representativas da magistratura, do Ministério Público e as demais
relacionadas ao sistema de Justiça do país estiveram reunidas”, em outro lugar
de Brasília, com o mesmo objetivo, conforme divulgou a Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB): criação de comissões temáticas para estudos
sobre a PEC. O presidente da AMB, Jayme de Oliveira, avaliou que o encontro foi
produtivo e muito importante para a convergência de propósitos entre as
entidades e a sociedade como um todo. “Foram definidas ações nas áreas
jurídica, política e de comunicação”, reiterou a nota da AMB.
Os policiais – por outra ótica, que fique claro – também se
articulam para estratégias específicas. No dia 12, as 28 entidades que formam a
União dos Policiais do Brasil (UPB) decidiram por um “Dia Nacional em Defesa da
Aposentadoria dos Profissionais de Segurança Pública”, em 8 de fevereiro, em
frente ao Ministério da Justiça e ao Congresso Nacional, às 13h30.
Especificamente para retirar a pedra de seus sapatos: protesto contra o artigo
da PEC que retira da Constituição o reconhecimento da atividade de risco nos
critérios de concessão de suas aposentadorias. Esperam reunir mais de 5 mil
profissionais na capital federal – de Goiânia, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os demais Estados que não
puderem comparecer ao movimento em Brasília farão ações nos aeroportos das
capitais.
O tempo é curto. Até o fim de março o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM/RJ), quer concluir a votação da reforma da Previdência. Resta
torcer para que a deputada Erika Kokai (PT/DF) esteja coberta de razão, quando
declarou que “nunca houve uma compreensão tão aguerrida da perversidade” do
Executivo como agora. Caso se concretize a conclusão de um manifesto e de uma
campanha publicitária única, apontando as contradições da PEC, já vai ser um
avanço. “Mesmo assim, nada garante que a harmonia passe a reinar. Afinal, tirar
dinheiro daqui ou dali para bancar uma propaganda na mídia não é assim tão
complicado. Dinheiro não falta. O nó que não se desata nessa aparente adesão é
o do respeito ao outro, da serenidade, do equilíbrio, da sabedoria e da
tolerância”, enfatizou um servidor federal.
Como não temos bola de cristal e adivinhar não é nossa
especialidade, é esperar para ver.
Fonte: Blog do Servidor