BSPF - 12/08/2017
Brasília - O governo de Michel Temer não quis ver o que
analistas do mercado financeiro e economistas davam como favas contadas desde o
início de 2017. Com a economia em marcha à ré e o excesso de desonerações
tributárias, as receitas da União estavam superestimadas, e o cumprimento da
meta de deficit fiscal de R$ 139 bilhões neste ano seria missão impossível.
O Palácio do Planalto tapou o sol com a peneira ao endossar,
em meados de 2016, negociações salariais com o funcionalismo feitas pela gestão
dilmista. Preferiu fechar os olhos para o impacto sobre o Tesouro a comprar
briga com as corporações naquele momento. O discurso era que precisava honrar
acordos, e os novos gastos caberiam na conta.
A gestão peemedebista parece não ver que é ilimitada a
voracidade de sua base de apoio parlamentar. Não importam os cargos e os
bilhões em emendas liberadas, haverá sempre uma pauta-bomba para ser jogada no
colo do Executivo.
Assim, a medida provisória da reoneração e a do novo Refis
—tão caras ao ajuste fiscal— podem virar pó nas mãos de aliados descontentes.
Até mesmo a MP do Funrural, já repleta de benesses a ruralistas e de pesado
custo, pode transmutar-se em algo pior no Congresso.
Por lá também não passa, e só Temer não enxerga, aumento de
imposto para o andar de cima. Tributar lucros e dividendos ou elevar Imposto de
Renda de quem ganham mais de R$ 20 mil, nem pensar.
Temer não anteviu que a tesoura afiada nas despesas poderia
paralisar a máquina pública. Não previu sequer que a boa notícia da queda
acelerada da inflação poderia frustrar as receitas federais neste ano.
Na segunda (14), o presidente deve anunciar rombos maiores
nas contas de 2017 e 2018. Junto, um pacote de maldades para servidores:
congelamento de salários, redução de vencimento inicial e corte em benefícios,
como auxílio-moradia.
Já dá pra ver greve no horizonte.
Fonte: Folha de S. Paulo