BSPF - 09/09/2017
A conta da incúria pode demorar, mas chega, como se vê
agora. Infelizmente, recai sobre a categoria de servidores do Executivo,
submetidos a toda sorte de constrangimentos
Tanto no plano federal quanto no estadual, a
irresponsabilidade na condução das folhas salariais dos servidores públicos
criou uma situação insustentável. Gestores públicos subestimaram a queda das
receitas e da inflação, concedendo reajustes que, mesmo corrigindo injustiças
enfrentadas por algumas categorias na época, hoje não têm como ser honrados, simplesmente
por não haver dinheiro disponível em caixa. O resultado é o que se constata
agora, com as dificuldades financeiras enfrentadas pelo poder público de
maneira geral, particularmente no âmbito do Executivo.
Levantamento do economista Nelson Marconi, da Fundação
Getulio Vargas, divulgado na edição de sexta-feira pela Folha de S. Paulo,
mostra que a folha de pagamento do governo federal chegou a R$ 282,5 bilhões em
julho passado, em valores anualizados (soma de 12 meses, já descontada a
inflação). O pico anterior dessa série havia sido em novembro de 2014, com R$
272,3 bilhões. Apenas em 2017, o custo adicional já é de R$ 21,8 bilhões — um
crescimento de 10,9% em termos reais. A explosão de gastos decorre dos aumentos
irresponsavelmente concedidos pelo governo Dilma Rousseff e liberados pelo
governo Michel Temer.
Outro estudo, do economista Darcy Francisco Carvalho dos
Santos, publicado também na última sexta-feira, em Zero Hora, revela que, se a
folha de pagamento do Estado tivesse sido reajustada pela inflação acumulada
desde 2010, alcançaria R$ 20,3 bilhões em 2016. O montante seria R$ 5 bilhões
inferior ao atual, o que eliminaria o déficit.
O trabalho demonstra a irresponsabilidade dos governantes
que, mesmo conhecendo a crise das finanças, cedem a tentações populistas e
fazem benesses com dinheiro dos contribuintes. É evidente que havia flagrantes
injustiças, como as das funções iniciais da Brigada Militar. Ainda assim, todo
e qualquer reajuste só poderia ter sido concedido se houvesse a devida correção
de distorções, como salários muito acima do razoável, com inchaço de muitos
setores e a inutilidade de incontáveis órgãos públicos.
Aumentar vencimentos, ainda mais acima da inflação, sem
reorganizar a máquina pública é iniciativa eleitoreira, típica de quem não está
preocupado com o futuro do Estado, mas apenas em fazer agrados a sua base e em
coletar votos para a próxima eleição. Some-se ao agravamento do quadro o fato
de outros poderes conviverem com vantagens diferenciadas, como maior média salarial,
auxílio-moradia, salários acima do teto e de não compartilharem dos sacrifícios
que recaem unicamente sobre o Executivo, como se a origem dos recursos não
fosse a mesma.
A conta da incúria pode demorar, mas chega, como se vê
agora. Infelizmente, recai sobre a categoria de servidores do Executivo,
submetidos a toda sorte de constrangimentos pelos repetidos atrasos e
parcelamentos de salários.
Fonte: Zero Hora