Autor(es): Fábio Graner, Fernando Nakagawa |
O Estado de S. Paulo - 29/10/2010 |
O setor público contratou 110 mil servidores em quatro meses, o que pode aumentar a pressão inflacionária
Apesar da maior austeridade fiscal - economia adicional em torno de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) - a partir de 2011, a autoridade monetária aponta um dos fatores que podem pôr em risco esse cenário. Caso o governo não consiga elevar o superávit primário, como está incorporado nos modelos do BC, a possibilidade de elevar o juro no ano que vem para conter a inflação crescerá significativamente.
A preocupação com a trajetória do emprego no serviço público é baseada nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). O estudo mostra que, ao contrário da iniciativa privada, governo federal, Estados e prefeituras aumentam a participação no mercado de trabalho desde junho. A mais recente pesquisa do IBGE mostra que a parcela da população ocupada no governo cresceu de 7,3% em maio para 7,8% em setembro.
No levantamento, a população ocupada nas seis principais regiões metropolitanas do País é estimada em 22,3 milhões de pessoas. Isso quer dizer que o aumento de 0,50 ponto porcentual na participação pública no emprego representa a contratação de pouco mais de 110 mil servidores desde junho.
As contratações, segundo fontes do Ministério da Fazenda, foram motivadas pela decisão judicial que obrigou o governo a substituir funcionários terceirizados. O processo ocorre há dois anos e será encerrado até dezembro. Enquanto isso, praticamente não houve alteração no emprego criado pela iniciativa privada.
Levando-se em conta as vagas com e sem carteira assinada, a fatia do setor privado no mercado de trabalho oscilou de 58,5% em maio para 58,6% em setembro. Já a parcela ocupada pelos empregados domésticos caiu de 7,4% para 7,1%. O restante do mercado é composto por pessoas que atuam por conta própria, empregadores e não remunerados. Ou seja, os números revelam que, proporcionalmente, o governo criou mais vagas que as companhias privadas.
Demanda. O emprego é uma das variáveis usadas pelo Banco Central para determinar a política de juros porque, por ser um dos motores da atividade doméstica, permite avaliar as perspectivas da demanda na economia. Para o Copom, é problemático quando a procura por mercadorias e serviços é maior que a capacidade das fábricas de oferecer os produtos. Quando o desequilíbrio acontece, os preços sobem. É tudo o que o BC, que luta contra a inflação, não quer.
Ciranda
Do ponto de vista da política monetária, contratar servidores eleva o gasto corrente do governo. E esse dinheiro, que poderia pagar a dívida pública, aumenta a procura por mercadorias e serviços.