Valor Econômico - 27/06/2012
Brasília - A presidente Dilma Rousseff resolveu ceder e fará
concessões para atender parte das demandas do funcionalismo público por
reajustes salariais. Os principais beneficiados pela decisão devem ser os
integrantes da base dos servidores, o que agradará ao meio sindical.
O primeiro desdobramento prático do sinal verde dado por
Dilma foi percebido ontem: o ministro das Relações Exteriores, Antonio
Patriota, assinou minuta de projeto de lei, que busca incorporar ao salário as
gratificações recebidas por assistentes e oficiais de chancelaria.
Outras categorias pressionam o governo federal por melhores
salários, como os auditores da Receita Federal e a Polícia Federal. Como resultado,
a presidente vem realizando reuniões nos últimos dias para tratar do assunto.
No Palácio do Planalto, porém, avalia-se que são menores as chances de
concessão de reajustes às carreiras que estão no topo do funcionalismo. Os
ocupantes de cargos de confiança também devem ter dificuldades para receber
melhores vencimentos. Servidores públicos fizeram ontem mais uma barulhenta
manifestação na Esplanada dos Ministérios.
A decisão de Dilma de ceder a algumas categorias sinaliza
que ela poderá acolher este ano a proposta de reajuste salarial dos servidores
do Poder Judiciário, contra a qual se opôs no ano passado. As informações
disponíveis nos bastidores da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional dão
conta de que uma nova proposta do Judiciário, com impacto fiscal diluído ao
longo dos próximos anos, poderia ser uma alternativa para resolver o impasse.
A incorporação das gratificações recebidas por assistentes e
oficiais de chancelaria aos salários é um dos principais pontos da pauta de
reivindicações dos servidores do Itamaraty, que estão em greve há uma semana. O
Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores
(Sinditamaraty) informou que o objetivo do movimento é equiparar os vencimentos
de diplomatas, assistentes e oficiais de chancelaria aos de outras carreiras de
Estado.
A proposta será encaminhada ao Ministério do Planejamento
para que seja incluída na proposta orçamentária de 2013. Autoridades da equipe
econômica explicaram recentemente que não é possível fazer mudanças salariais
para este ano, pois isso implicaria alteração do chamado Anexo V da lei
orçamentária em vigor, o que só pode ser feito por meio de projeto de lei.
Durante a tramitação desse projeto, argumentam as mesmas fontes, seria difícil
evitar que outras categorias obtivessem as mesmas vantagens.
Na avaliação do Sinditamaraty, o documento assinado
reconhece "a indesejável distorção entre as carreiras do Serviço Exterior
Brasileiro", a qual acarretou "grave problema de gestão na política
de pessoal do Ministério de Relações Exteriores".
Atualmente, a greve da categoria afeta 110 embaixadas e
consulados brasileiros no exterior, além de quatro postos regionais do
Itamaraty no Brasil (Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná). Em
Brasília, a paralisação teve a adesão de aproximadamente 60% dos servidores.