O Estado de S. Paulo
- 12/09/2013
Branco de olhos verdes, o médico Mathias de Souza Lima
Abramovic foi aprovado dentro das cotas para afrodescendentes na primeira fase
do concurso para a carreira diplomática no Instituto Rio Branco. No entanto,
mesmo que consiga passar nas outras três fases do concurso, Abramovic pode ser
enquadrado em um quesito que permite a desclassificação de pessoas que deram
declarações falsas na inscrição.
O médico, que mora no Rio, se inscreveu no concurso do
Itamaraty, um dos mais difíceis do governo federal, declarando-se
afrodescendente. No entanto, suas fotos publicadas na internet revelam que tem
pele clara e olhos verdes. O concurso prevê que os dez afrodescendentes e os
dez deficientes físicos com melhores notas, mas abaixo dos cem primeiros
colocados, poderão concorrer na fase seguinte. O caso foi revelado pelo site do
jornal O Globo.
Nas redes sociais, Abramovic diz considerar-se negro. Em
documentos aparece como pardo. Após a divulgação de sua aprovação, o médico
desativou seu perfil no Facebook.
Regras. O edital do concurso, feito pelo Instituto Rio
Branco (órgão que prepara os diplomatas) define que a condição para ser
enquadrado como cotista é a autodeclaração. Não há previsão de análise pessoal
ou de fotos. Também não diz que o candidato precisa ser negro ou pardo,apenas
que é afrodescendente, ou seja, que tem antepassados negros, sem necessariamente
ter traços raciais.
Ontem, o instituto simplesmente declarou que o edital prevê
a autodeclaração e que não há bancas de verificação. O Itamaraty declarou
que" estudantes que se considerem prejudicados pela situação podem
recorrerá Justiça.
Internamente, o Ministério das Relações Exteriores reconhece
que pode haver um problema no caso de Abramovic e que, se o estudante for
realmente aprovado, poderá ser analisada a hipótese de ser enquadrado em outro
quesito do edital, que é o de dar informações falsas no momento da inscrição.
No entanto, se conseguir provar que é descende de negros, o candidato pode
questionar essa interpretação.
Prova - Também admite-se que para o concurso de 2014 o
edital tenha de ser alterado para deixar mais claro que tipo de pessoa o
Itamaraty quer que se enquadre no critério racial Aideia das cotas do Instituto
Rio Branco é "mudar a cara da diplomacia"", aumentando a
participação de mais negros e pardos no serviço diplomático. Mesmo que seja
afrodescendente, Abramovic dificilmente poderia se enquadrar nesse público que
faz falta ao Itamaraty.
O médico classificou-se para a segunda fase do concurso com
nota 47,50, quase dois pontos a menos do que o último entre os cem primeiros
colocados, Ficou em quarto lugar entre os autodeclarados afrodescendentes.
Agora, Abramovic tem de passar pelas provas de português e redação. Se também
for aprovado nessa etapa, entrará na terceira fase, de provas discursivas de
História, Geografia, Política Internacional, Inglês, Economia e Direito
Internacional. A quarta fase é ape- nas classificatória e inclui questões de
francês e espanhol.
Para lembrar
O Ministério das Relações Exteriores foi o primeiro a
anunciar cotas para concursos públicos, no início de 2011, quando o assunto
ainda nem havia sido discutido no Supremo Tribunal Federal (STF). Desde o ano
passado, técnicos do governo estudam reservar cotas do serviço público, em
cargos concursados ou comissionados, para negros.
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