Débora Bergamasco
O Estado de S. Paulo
- 09/02/2014
Para a ex-ministra, que acaba de deixar a pasta da Casa
Civil, País não anda por 'falta de cultura de agir por resultado'
Brasília - A ex-ministra Gleisi Hoffmann deixou a Casa Civil
na segunda-feira passada frustrada por "não ter tido mais celeridade nas
entregas" de alguns projetos essenciais do governo Dilma Rousseff. Ela
admite, por exemplo, que nesses dois anos e sete meses à frente da pasta, não
conseguiu deixar "frutos mais concretos" no programa de combate ao
crack, uma das principais bandeiras de campanha da presidente Dilma Rousseff na
eleição passada.
A "culpa", segundo a ex-ministra, é principalmente
"da acomodação e inércia da máquina pública" que "não está
acostumada com uma cultura de resultado, de comprometimento de entregas".
Sobrevivente na cadeira de onde foram ejetados os
ex-ministros Antonio Palocci, José Dirceu e Erenice Guerra, Gleisi deixou o
posto para concorrer ao governo do Paraná, reassumindo sua vaga de senadora
(PT-PR). Conta que quando foi para o Executivo sentiu preconceito por parte de
colegas de trabalho pelo fato de ser mulher e afirma que eles tentavam testar
sua capacidade.
Deixa a Casa Civil com algum arrependimento?
Eu gostaria de ter tido mais celeridade nas entregas. Queria
que nosso Programa de Investimento e Logística já estivesse com todos os modais
em processo de licitação. E que o programa de combate ao crack, que é muito
complexo, já pudesse estar dando frutos mais concretos.
Essa, inclusive, foi uma promessa de campanha da presidente
Dilma...
O governo está estruturando uma política pública de governo
muito consistente. Ela é mais demorada em dar resposta porque depende da
articulação das três esferas da federação e de vários órgãos. Claro que eu
gostaria que tivesse mais celeridade. Claro que se eu tivesse, no início, a
experiência e o conhecimento que eu tenho agora, acho que eu teria conseguido
fazer isso.
E qual é a maior dificuldade do governo em fazer o Brasil
andar?
Ainda é a falta de cultura da máquina pública de agir por
resultado. Temos uma baixa cultura de comprometimento de entregas. O serviço
público não está acostumado a isso, então, quando nós cobramos resultados,
muitas vezes tem reação. Quando cobramos metas, organização, não temos o
retorno esperado, porque é uma questão de cultura e também da própria
organização do serviço público, em que a estabilidade está na base e a
instabilidade está no comando. Isso faz com que o setor público acabe ficando
acomodado. Tem uma tendência à acomodação, a ter mais inércia. Com certeza
dificulta muito dar mais celeridade aos programas e resultados mais rápidos.
É por isso que a população vive com a sensação de que nada
está sendo feito, que o País não está caminhando?
Com certeza, isso dá uma sensação de paralisia, o que é uma
pena, né? Não quer dizer que os governos não estejam trabalhando, tentando
fazer. Muitas vezes você não consegue dar o resultado e o retorno imediatos
porque você não tem os meios legais para que aquilo possa ser realizado. É
diferente da iniciativa privada.
A senhora sofreu algum tipo de resistência por ser mulher e
bonita na Casa Civil?
Bonita é por sua conta, mulher, sim (risos). Eu não diria
uma resistência, mas uma desconfiança, porque não é comum haver mulheres na
política e em cargos de comando. Tem uma tendência a testar para ver se
realmente tem capacidade e competência. Senti essas movimentações, essas
condutas. Mas você não pode se deixar levar por isso. Muitas vezes, na hora de
fazer as cobranças, eu falava em nome da presidenta e impunha o que tinha que
ser feito. Sempre fui muito respeitosa mas também muito dura. Nunca fui muito
delicada, não era meu objetivo.
Como era conviver com seu marido em outro ministério?
Sempre convivemos muito bem. Quando a situação ficava mais
delicada, que a minha cobrança tinha que ser mais imperativa e eu achava que
isso poderia resultar num acirramento da relação pessoal, eu recorria à
presidenta. Eu dizia: 'A senhora me ajuda aqui' (risos). E, sim, o trabalho
dominava a pauta do matrimônio sempre.
De quem é a culpa pelo fato de os estádios da Copa do Mundo
não estarem prontos?
Eu acompanhei a questão dos estádios desde o início. Foi uma
das primeiras missões que a presidenta deu. Fizemos uma força-tarefa, junto com
o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Ministério do
Planejamento e dos Esportes para viabilizar os empréstimos que tinham sido
prometidos aos Estados e para acompanhar o desenvolvimento das obras.
Tivemos um
engajamento forte das prefeituras e governos estaduais. Infelizmente, em
relação a Curitiba não foi a mesma coisa. Tanto a administração do estádio
quanto os governos locais não corresponderam. O empréstimo para o Atlético
Paranaense estava liberado desde o início e o clube demorou muito a ir buscar
esse empréstimo e espero que realmente agora consigam recuperar o tempo
perdido. Será uma vergonha para Curitiba e o Paraná não sediarem os jogos da
Copa do Mundo.
O prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), é da base do
governo...
O processo todo foi feito antes da entrada do Gustavo, na
gestão anterior.
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