Jornal de Brasília
- 25/01/2018
Sem voto suficiente para aprovar a reforma da Previdência, o
relator da proposta, deputado Arthur Maia (PPS-BA), admitiu ontem a negociação
de um "pacote de mudanças" em troca do apoio de parlamentares ao
texto. As alterações em negociação são exatamente aquelas que podem beneficiar
grupos específicos, como servidores que pretendem receber aposentadoria
integral e policiais em busca de regras diferenciadas. Esse seria o primeiro
grupo a ser atendido. "É melhor fazer concessões e garantir aprovação de
regime previdenciário igual para todos do que não fazer essa mudança", defendeu
o deputado.
Arthur Maia negou
que, no fim das contas, o texto possa afetar apenas os trabalhadores vinculados
ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). "Não há possibilidade de
isso acontecer", disse. A possível flexibilização de regras para servidores
públicos enfraquece o discurso do governo de que a reforma combate privilégios.
Após reunião com o ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, o próprio
Arthur Maia mencionou a chamada bancada da bala, que é o grupo de deputados que
defende os interesses de policias no Congresso. "As conversas estão em
processo de afunilamento, como uma discussão com a bancada da bala. Eles têm
algumas reivindicações que podem ser atendidas ou não.
Uma delas é algum
tipo de regra de transição, que na minha opinião já existe, mas eles pretendem
ter uma diferente para policiais. Outros solicitam que policial morto em
serviço tenha direito a aposentadoria, pensão, integral. Isso é discutível?
Depende da quantidade de votos apresentados", disse. Os servidores que ingressaram
no funcionalismo até 2003 vêm brigando por uma regra de transição mais
benéfica. Pela última proposta, esses servidores teriam que esperar até os 65
anos (homem) e 62 anos (mulher) para ter direito à benefício intetral e
paridade. Arthur Maia disse que ainda "é preciso saber quantos votos cada
mudança traria".
Mapeamento positivo
Durante a reunião, o
governo apresentou, de acordo com o deputado, um mapeamento com 275 votos a
favor do texto da forma como ele está e outros 55 a 60 deputados que são
considerados indecisos. O governo teria ganho 25 votos desde a última avaliação
Apesar de dizer que o placar é positivo, Arthur Maia disse que seria
"temerário" levar pra votação sem expectativa de conquistar 320 a 330
votos.
"A ideia que temos em relação ao projeto seria:
acertando um pacote de mudanças que traga os votos necessários, seria
apresentada pela base aliada uma emenda aglutinativa a ser absorvida ao
parecer." Arthur Maia disse que foi "afastada" a hipótese de
votar a Previdência em novembro. Nesta terça (23), Marun contradisse a equipe
econômica e afirmou que a reforma previdenciária será votada em fevereiro
"de qualquer jeito". Com o risco de não haver apoio suficiente no mês
que vem, assessores e auxiliares presidenciais começaram a cogitar a
possibilidade da iniciativa ser retomada em novembro.